sábado, 22 de março de 2014

Curso de Técnicas Alternativas em Saneamento e Construção da Fossa BioSéptica no Rufino Rocha

No dia 23 de novembro de 2013, um sábado, cerca de 20 moradores voluntários deram início à escavação da fossa bio séptica que seria instalada no curso de Técnicas Alternativas em Saeamento, dentro do contexto do Projeto Sustentabilidade em Ação.

O local escolhido, o espaço comunitário do Rufino Rocha, aonde há aulas de capoeira e música além de um campo de futebol, estava com o banheiro desativado há alguns anos. A antiga fossa desse banheiro, que já estava desativada há alguns anos, era do tipo rudimentar, ou fossa negra: um buraco circular bastante profundo, revertido de pedras e sem qualquer proteção superior, representando um risco para as pessoas que passavam por ali.





Os voluntários trabalharam duro o dia todopara cavar um buraco de cerca de 7 metros de comprimento, por 2 de largura e 1,60 de profundidade. O morador Delson Barbosa, que há muitos anos trabalha com construções no Vale, deu uma ajuda fundamental! A antiga fossa, localizada atrás da nova, foi preenchida com a terra retirada do novo buraco.





Fila de voluntários para transportar os tijolos até o local da fossa.


Escavando! O cano grosso na foto levava a água negra do banheiro para a antiga fossa.



No meio dos trabalhos, todos se juntaram para comer uma feijoada e beber um suco!


Na quinta-feira da semana seguinte, dia 28/11, na sede da APEA-CA na Vila, foi iniciado o curso de Técnicas Alternativas em Saneamento. O curso foi divulgado por cartazes pelo Vale, convites individuais aos pedreiros e outros profissionais da construção, redes sociais e boca a boca entre os moradores. Apesar de o foco do curso ter sido os profissionais da construção, a grande maioria dos alunos era de pessoas interessadas no tema, mas que trabalhavam em outras áreas.

No primeiro dia contamos com a palestra do Dr. Aureo Augusto, médico do posto de saúde do Vale, e morador daqui há mais de 30 anos. Áureo, que foi um dos primeiros moradores “de fora” a chegar no Capão, ofereceu uma palestra muito interessante sobre mudanças ocorridas no Vale nos últimos anos e a importância da conscientização da população sobre os caminhos que queremos para o nosso Vale. Áureo também levantou aspectos sobre a relação entre a saúde e o saneamento, que estão intimamente ligados.






Em seguida, no mesmo dia, a turma contou com um bate-papo com o secretário de meio ambiente do município de Palmeiras, Aruanã de Luccas. Aruanã expôs as novas atividades da secretaria, que começou a regularizar e licenciar os empreendimentos no Capão. O secretário também chamou a atenção para a importância de se dar seguimento à elaboração do Plano Diretor do município, uma ferramenta fundamental para ordenar a ocupação no Vale. Os alunos puderam tirar várias dúvidas, que foram prontamente esclarecidas por Aruanã.


O dia seguinte (29/11) foi com Martin Zuccolotto, especialista em bioconstrução. Martin trouxe para a turma os principais conceitos de bioconstrução, como a importância de se aproveitar os materiais, de se levar em conta as características naturais do local de construção, utilizar materiais naturais, entre outros. Martin também explicou somo seriam as aulas práticas, com a construção de fato de uma fossa bio séptica no Rufino Rocha, nos dois sábados seguintes.



Para preparar o “campo” para a aula de sábado, durante a semana as atividades  no Rufino não pararam! Foi necessário mais trabalho para aprofundar o buraco cavado no mutirão, e o pedreiro Josemar Rocha, com seus ajudantes, fez a base da fossa (piso e paredes). Assim, o local ficou pronto para a aula prática de sábado com toda a turma. 






No sábado, dia 30, às 8:30 da manhã alguns alunos já tinham chegado para a prática e a aula começou. Como as paredes e o piso já estavam prontos, o professor Martin seguir para a explanação sobre a construção da “pirâmide” de tijolos em que toda a água negra do vaso sanitário é despejada. A pirâmide é construída de forma que em seu interior ocorra a digestão anaeróbica (sem ar) da matéria orgânica, que vai escorrendo pelos orifícios do tijolo para fora da pirâmide. No lado “de fora”, dentro da bacia, a digestão vira “aeróbica” (com ar) pelas bactérias que ficam nas pedras porosas, na brita, areia, etc. (veja aqui o processo completo).

Além de aprender como é feita a pirâmide e ver na prática os passos da construção da fossa, os alunos ajudaram no transporte dos materiais (pedra, areia, cimento, brita) e na limpeza da área.





Martin trouxe amostras de água de uma outra fossa ecológica realizada na escola comunitária Brilho do Cristal, localizada bem próximo ao Rufino.


O antigo cano estava entupido e deu um grande trabalho para a equipe descobrir como desentupir! No final, foi necessário trocar parte do cano.


O círculo de bananeiras, além de receber a água cinza do banheiro (água da pia) também servirá como o local de escape caso a fossa exceda o limite de água.







Foi necessário reinstalar o cano de saída de água do vaso sanitário, que também precisou ser trocado.





Instalação do suspiro.







O círculo de bananeira também recebeu atenção do pessoal:



Na aula prática, assim como no mutirão, também teve feijoada!





Na 5ª feira seguinte, dia 5/12, o especialista em banheiros secos e compostagem Nir Kaplan fez uma aula sobre as alternativas ecológicas em saneamento. Nir trouxe exemplos, fotos, vídeos e outros materiais sobre o “absurdo do esgoto”: como descartamos nossas fezes e urina de uma maneira que criamos diversos problemas, enquanto poderíamos estar utilizando este material como adubo. Nir mostrou a história do saneamento, como o hábito de urinar e defecar na água (em vaso sanitário) foi introduzido , e como se tornou a regra no mundo moderno ocidental. Este sistema, no entanto, não é nem um pouco eficaz, e bastante desaconselhável para lugares com escassez de água. Nir apresentou dados sobre a segurança dos banheiros secos, ou seja, com quanto tempo, com os cuidados e condições adequados, os patógenos (bactérias e outros organismos que causam doenças) presentes nas fezes e urina se tornam inofensivos para os homens.





No dia seguinte, sexta-feira, a aula foi um bate-papo com alguns profissionais da construção que atuam no Capão e os professores das aulas anteriores. Foi um momento importante para reflexão sobre a ocupação do Vale, a evolução que ela tem tomado, sua forma e sobre como queremos que ela se dê daqui pra frente. Foi levantada a questão da importância de o município ter um documento que regularize esta ocupação, o Plano Diretor, que dará as diretrizes para os tamanhos de terrenos (cada vez menores), os tipos de fossas, as áreas de comércio, etc.

Na manhã seguinte, sábado dia 7/12, houve a 2ª aula prática no Rufino. Neste dia, já com a estrutura da fossa pronta, ou seja, a bacia e a pirâmide, foi hora de preencher o espaço com as pedras, brita, areia e matéria orgânica. Não foi tarefa fácil carregar as pedras, que foram colocadas cuidadosamente, uma a uma, para não danificar o piso e as paredes da bacia.









O círculo de bananeiras também recebeu cuidados!



Dessa vez foi servido um lanche!






Como a 2ª aula não foi suficiente para finalizar a fossa, afinal ela é bastante grande, com 7 metros de comprimento, 2 de largura e 1,8 de profundidade, foi realizado uma 4ª atividade no local (depois do primeiro mutirão e das duas aulas). No dia 14/11 alguns alunos, a coordenação e o professor Martin se reuniram novamente para depositar a última camada de brita e areia, de matéria orgânica, de terra com adubo e enfim plantar as bananeiras. O pessoal até ajeitou alguns canteiros em volta, inclusive o da placa com as explicações sobre a fossa. O círculo de bananeiras também foi finalizado.
Dentro do banheiro do Rufino foi instalado um novo vaso, a pia- doada pelo posto de saúde – e as instalações hidráulicas foram todas realizadas. Aproveitamos para pintar as paredes e porta do banheiro e realizar alguns consertos nas paredes em volta. O resultado ficou muito bom!







Como sempre, a feijoada e o suco foram servidos!



A equipe do Projeto elaborou alguns avisos internos para que o pessoal que utilizará o banheiro mantenha as condições para que o sistema funcione. Não se pode, por exemplo, realizar a limpeza do vaso sanitário com produtos químicos como água sanitária, pois isso elimina os micro-organismos que fazem toda a “digestão” da matéria orgânica.






A atividade foi produtiva! Esperamos que a nova fossa seja um modelo no Vale para que as pessoas possam aprender e verificar na prática como funciona uma alternativa ecológica, para que as próximas construções contem muito mais com este tipo de alternativa!







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