sexta-feira, 4 de julho de 2014

Resultados das análises das águas do Capão



Dando prosseguimento às atividades de análise da qualidade da água, entre os dias 12 e 17 de junho de 2014 realizamos a análise de alguns dos principais pontos de captação de água das nascentes (Bomba, Campos e Gatos) e de dois poços que fornecem água para a região da Vila e dos Campos. Somando com os outros pontos de captação de nascentes analisados em visitas anteriores (Mata e Batista), o projeto Sustentabilidade em Ação tem objetivado compreender a qualidade da água consumida pela maior parte da população do Capão.

O Kit Potabilidade utilizado, fabricado pela empresa ALFAKIT, permite a avaliação da qualidade da água segundo alguns dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde considerando que a água potável, ou seja, adequada para o consumo humano, deve ser aquela cujas características microbiológicas, físicas, químicas e radioativas não ofereçam risco para o consumo humano.

Os parâmetros analisados foram: Alcalinidade, Dureza, Cloretos, pH, Ferro, Amônia, Cor, Turbidez, Coliformes totais e fecais.
 
A análise das fontes de abastecimento de água do Capão procurou identificar os elementos que diferem dos parâmetros definidos. Após as identificações destes, focaremos um estudo sobre as consequências destas imperfeições da água para a nossa saúde e as possibilidades de correção.



Descrição das visitas às fontes de abastecimento:

Batista: A captação realizada do Batista se localiza abaixo da nascente. Observou-se que as matas ciliares estavam bem preservadas. Da represa de captação de água do Batista saem três encanamentos: um por meio de um cano de 50 que distribui água para a região que vai do Doce Mel até o colégio Municipal. Este encanamento tem aproximadamente 28 anos de existência. O segundo fornece água para o Lothloren por meio de um encanamento de 1/2. O terceiro, também de 1/2, fornece água para cerca de oito casas próximas do local. Segundo relatos, o segundo e o terceiro encanamento são mais antigos do que a rede geral.

Mata (nascente de Dona Alicinha): A captação realizada da nascente de Dona Alicinha acontece por meio de um represamento de água abaixo da nascente de onde saem dois encanamentos que se juntam, sendo realizado um rodízio de registro para contemplar os moradores do local. Esta nascente também encontra-se bastante preservada, contudo, não é capaz de suprir toda a demanda do local, sendo normal que seque nos períodos de estiagem.

Bomba: A captação de água realizada no rio do Bomba é bastante importante para a população do Capão. Ela fornece água para a população da própria região do Bomba até a região dos Brancos, sendo a fonte com maior capacidade de distribuição. Dentre todos os pontos de captação, este é o que o acesso é mais difícil, tendo em vista que é necessária uma caminhada de aproximadamente 40 minutos desde o povoado do Bomba até o ponto de captação. Embora não houvesse vestígios de presença humana no local, foram vistas fezes de equinos, o que indica que alguns animais frequentam o local. Durante toda a caminhada observamos que a mata ciliar o local é bem preservada. Acompanharam-nos nesta análise o professor de biologia da UFBA e visitante frequente do Capão, prof. Ronan, o médio co Posto de Saúde do Vale, Dr. Áureo e a ex-monitora do Projeto Sustentabilidade em Ação e professora Solange.

Localização geográfica do ponto de captação: 24 L 0219692       UTM: 8615165       Altitude: 865 m
Resultado Coliformes Fecais e Totais: presente






Teste realizado no Bomba: Prof. Ronan, Maria, Solange (monitora) e Vtória.

Teste realizado no Bomba: Maria, Solange (monitora) e Dr. Áureo.

Cano no ponto de captação da água do Bomba




Campos: Na região dos Campos foi analisada a água da nascente conhecida por Grota, Fumaça ou Larga. A água dessa nascente que chega por gravidade se junta com a água do poço tubular que chega por meio de bombeamento até duas caixas de água com capacidade de 10.000 litros e 30.000 litros cada uma delas. Nestas duas caixas a água da nascente e do poço se juntam, passando a partir dali a abastecer os imóveis da região. O sistema de abastecimento dos Campos se apresentou de forma bem organizada, uma vez que foram os próprios usuários alcançaram um sistema auto-gestionário que visa à distribuição do recurso hídrico para todos, considerando as diferentes formas de contribuição que cada morador pode dar. Em relação às parcerias firmadas para a implantação do sistema, houve um acordo entre um político da região para a perfuração do poço em uma área de um particular, sendo que atualmente a prefeitura paga a conta de energia para o bombeamento da água. Embora o sistema de armazenamento em caixas de água ofereça vantagens em relação aos sistemas em que a água chega diretamente aos consumidores, foi observada a necessidade de um melhor fechamento e vedação destes reservatórios para evitar a entrada de pequenos animais, tais como rãs. Acompanharam-nos nesta análise Martin, permacultor, e André, morador dos Campos e proprietário do terreno em que se localiza o poço.


Localização geográfica das caixas: 24 L 0229185        UTM: 8606041          Elevação: 1014m
Resultado Coliformes Fecais e Totais poço Campos: negativo
Resultado Coliformes Fecais e Totais nascente: não identificado


Reservatórios dos Campos: caixa de fibra de vidro de 10 mil litros e reservatório de alvenaria (30 mil litros).

Interior do reservatório de 10 mil litros, com duas entradas de água: da nascente e do poço.





Chico: O ponto atual de captação da nascente do Chico é bastante recente. Há pouco tempo atrás a captação era feita em um ponto que não secava. Contudo, devido a alguns conflitos referentes a forma de manejo e ao acesso ao local entre a proprietária do terreno e um pequeno grupo de moradores que dão manutenção voluntária ao sistema de abastecimento de água, o ponto de captação passou a ser em um outro local, mais acima do ponto de captação anterior. O novo ponto de captação apresenta o risco de secar nos períodos de estiagem, apresentando esta desvantagem em relação ao ponto de captação anterior.  O ponto de captação recente apresenta uma mata ciliar bem preservada enquanto que no ponto de captação anterior a mata ciliar foi devastada na época dos plantios de café, o que indica a importância de um projeto de reflorestamento da mata ciliar do local. Essa fonte de abastecimento complementa as fontes do Bomba e do Batista no atendimento à população da região, como também fornece água para a região da Mata, que sofre com as poucas alternativas de captação de água somado a um grande aumento populacional. Acompanharam-nos nesta análise Mônica e Sr. Zé, proprietários das terras em que se localizam as nascentes, e Alessandra, do Posto de Saúde.

Localização geográfica do ponto de captação atual: 24 L 0230108, UTM 8602500, Elevação: 936 m   
Resultado Coliformes Fecais e Totais: presente


Localização geográfica do ponto de captação anterior: 24 L 0230023   UTM 8602542    Elevação: 925 m


Ponto de captação anterior da nascente conhecida como Nascente do Chico

Ponto atual de captação da nascente conhecida como Nascente do Chico, alguns metros acima do ponto de captação anterior.




Gatos: O ponto de captação da nascente dos Gatos é bastante conservado, ainda que próximo a ele tenha pequenas hortas e pomares. O cano que sai do ponto de abastecimento é de 100 e depois se divide em dois canos de 1 polegada. A água dessa nascente abastece toda a região dos Gatos e não houve nenhum momento em que tenha secado. Acompanharam-nos nesta análise o morador dos Gatos Sr. Jorge e o dentista do Posto de Saúde do Vale, Raimundo.

Localização geográfica do ponto de captação: 24 L 0229467   UTM 8604566      Elevação: 934m
Resultado Coliformes Fecais e Totais: não identificado

Após a análise da nascente, foi realizado um teste de coliforme em uma das residências do pequeno agrupamento de casas dos Gatos (próximo à ponte dos Gatos). A casa não possui caixa d´água,d e forma que a água analisada é a mesma da fonte, após passar por encanamento. O resultado de Coliformes Fecais e Totais na residência foi positivo, sugerindo contaminação no encanamento.


Foto do represamento e captação da água da Nascente dos Gatos.

Realização da análise: Vitória e Raimundo




Vila: Para a análise da qualidade da água que é servida para a população da Vila, fizemos o exame com a água do nosso escritório, localizado na ladeira da vila do Capão. A água coletada vem diretamente do poço tubular perfurado pela CERB em 14/03/2000. O poço tem 114 metros de profundidade, apresentando vazão na época da perfuração de 23.290 l/h. A água, portanto, não passa por nenhum reservatório de água, somente pelo encanamento que conduz a água do poço para a residência.
Resultado Coliformes Fecais e Totais poço Vila: negativo


Os resultados dos parâmetros analisados em todas as nascentes foram os seguintes:









Obs.: os parâmetros que estão em conformidade com o estabelecido pelo Ministério da Saúde forma marcados em azul, enquanto aqueles que não estão em conformidade estão grifados em rosa. Em verde estão os parâmetros que não têm um valor máximo permitido ou cujo teste não alcançou uma resposta que pudesse identificar o valor exato. O maior problema identificado nas águas do Capão foi o pH, em geral mais ácido do que o recomendado.

Para um melhor entendimento destes parâmetros, segue abaixo uma breve descrição de cada um deles:




Alcalinidade: a origem natural da alcalinidade está nas rochas, atmosfera, matéria orgânica, fotossíntese; a origem antropogênica, relacionada às atividades humanas, está nos despejos domésticos e industriais. Entre as impurezas encontradas na águas, existem aquelas que são capazes de reagir com ácidos, podendo neutralizar certa quantidade desses reagentes. Essas impurezas conferem às águas a característica de alcalinidade. Por definição, alcalinidade de uma água é a sua capacidade quantitativa de neutralizar um ácido forte, até um determinado pH. A alcalinidade é devida principalmente à presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos. Valores elevados de alcalinidade estão associados a processos de decomposição da matéria orgânica e à alta taxa respiratória de microorganismos. Mesmo as águas com pH inferior a 7,0 (5,5 por exemplo), podem, e, em geral, apresentam alcalinidade, pois normalmente contém bicarbonatos.  A maioria das águas naturais apresenta valores de alcalinidade de 30 a 500 mg/l. Do ponto de vista sanitário a alcalinidade não tem significado relevante, mesmo para valores elevados (e. g., 400 mg/L de CaCO3). No entanto as águas de alta alcalinidade são desagradáveis ao paladar e a associação com pH elevado, excesso de dureza e de sólidos dissolvidos, no conjunto, é que podem ser prejudiciais.

Dureza: Inicialmente, a dureza da água era entendida como a capacidade da água de precipitar sabão. O sabão é precipitado principalmente pela presença de íons cálcio e magnésio. Outros cátions, como por exemplo, ferro, manganês e zinco, podem precipitar o sabão; porém, geralmente estão presentes na água na forma de complexos, frequentemente com constituintes orgânicos, e sua participação na dureza da água é mínima. Assim, e de acordo com a prática atual, dureza de uma água é a soma das concentrações de cálcio e magnésio, expressas em termos de carbonato de cálcio, em miligramas por litro. A dureza de uma água pode ter origem natural (como dissolução de rochas calcárias) ou antropogênica (lançamento de efluentes industriais). Águas com elevados teores de dureza reduzem a formação de espuma, mas há evidencias de que a ingestão de águas duras contribui para uma menor incidência de doenças cardiovasculares.  Em corpos d´água com reduzidos teores de dureza a biota é mais sensível à presença de substâncias tóxicas, já que a toxidade é inversamente proporcional ao grau de dureza da água. Habitualmente, uma água doce natural tem uma dureza total, expressa como CaCO3, à volta de 35 mg/L, podendo apresentar valores muito mais elevados, sem qualquer risco para a saúde.

Cloretos: Os cloretos existem normalmente nos dejetos animais e, por isso, a análise de cloreto pode indicar contaminação fecal. Nas águas superficiais, são fontes importantes de cloreto as descargas de esgotos sanitários, sendo que cada pessoa expele através da urina cerca 4 g de cloreto por dia, que representam cerca de 90 a 95% dos excretos humanos. O restante é expelido pelas fezes e pelo suor (WHO, 2009). Tais quantias fazem com que os esgotos apresentem concentrações de cloreto que ultrapassam 15 mg/L. O cloreto não apresenta toxicidade ao ser humano, exceto no caso da deficiência no metabolismo de cloreto de sódio, por exemplo, na insuficiência cardíaca congestiva. A concentração de cloreto em águas de abastecimento público constitui um padrão de aceitação, já que provoca sabor “salgado” na água.

pH: O pH, que pode variar entre 0 a 14, indica se a água é ácida ou alcalina. Assim, o pH 7,0 indica neutralidade. Acima de 7,0 indica alcalinidade e abaixo de 7,0 indica acidez. Quando o pH baixa, a corrosividade da água geralmente aumenta, trazendo para a solução ferro e manganésio, por exemplo, que lhe dão um gosto desagradável. Valores de pH altos também podem atacar os metais. Para a vida aquática, o pH deve situar-se entre 6.0 e 9.0. O pH altera a solubilidade e, por isso, a disponibilidade de muitas substâncias, mas também afeta a toxicidade de substâncias como o ferro, chumbo, crómio, amoníaco, mercúrio e outros elementos.

Ferro: A concentração alta de Ferro pode acontecer pelas características naturais da água ou por receberem esgoto do tipo industrial.  Nas águas superficiais, o nível de ferro aumenta nas estações chuvosas devido ao carreamento de solos e a ocorrência de processos de erosão das margens. O ferro confere cor e sabor à água, provocando manchas em roupas e utensílios sanitários. Também traz o problema do desenvolvimento de depósitos em canalizações e de ferro-bactérias, provocando a contaminação biológica da água na própria rede de distribuição. Por estes motivos, o ferro constitui-se em padrão de potabilidade.

Amônia: A amônia, assim como o cloreto, indica a presença de dejetos animais e também humanos. Ainda que uma pequena quantidade de amônia possa aparecer naturalmente em águas de abastecimento, a sua quantidade elevada indica poluição recente. Um odor pungente é detectável em concentrações acima de 30 mg/L, ocorre irritação ocular e nasal a 50 mg/L, disfunção pulmonar a 1000 mg/l e há risco de morte se uma pessoa for exposta a concentrações acima de 1500 mg de NH3/L(11). Ocorre em vários efluentes domésticos e industriais e também resulta da decomposição natural da matéria orgânica. O amoníaco e seus derivados (uréia, nitrato de amônio e outros) são usados na agricultura como fertilizantes e componentes de vários produtos de limpeza. O amoníaco é muito usado em ciclos de compressão (refrigeração) devido ao seu elevado calor de vaporização e temperatura crítica. Em concentrações muito altas, por exemplo, na água de consumo, pode causar danos graves, já que interfere no transporte do oxigênio pela hemoglobina, entre outros efeitos tóxicos.

Cor: A existência na água de partículas coloidais ou em suspensão determina o aparecimento de cor. Essas partículas provêm do contato da água com substâncias orgânicas como folhas, madeira, etc., em estado de decomposição, da existência de compostos de ferro ou de outras matérias coradas em suspensão ou dissolvidas.

Turbidez: A turbidez ou turvação duma água é causada por diversos materiais em suspensão, de tamanho e natureza variados, tais como, lamas, areias, matéria orgânica e inorgânica finamente dividida, compostos corados solúveis, plâncton e outros organismos microscópicos. A presença destes materiais em suspensão numa amostra de água causa a dispersão e a absorção da luz que atravessa a amostra, em lugar da sua transmissão em linha reta. A turbidez é a expressão desta propriedade óptica e é indicada em termos de unidades de turbidez (NTU – Nephelometric Turbity Unit).

Sobre os coliformes totais e fecais, estes indicam a presença de organismos parasitários ou patogênicos que utilizam a água como veículo. Devido a grande dificuldade de identificar os microorganismos patogênicos presentes na água, identificam-se as bactérias do grupo "coliforme" que, por serem habitantes normais do intestino humano, sua presença nas águas indica a presença de matéria fecal, sendo inadequada para o consumo sem tratamento. 


Fontes: Relatório Kurita, Aline Maxiline Pereira Oliveira; ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS COR, TURBIDEZ, PH, TEMPERATURA, ALCALINIDADE E DUREZA- MIEB – 2007/08; UNICAMP – ST 502 e ST 503; CETESB; Alfakit.


FIQUE ATENTO!
Em breve o projeto realizará mais testes de qualidade da água. A ideia é manter um Programa Permanente de Análise da Qualidade da Água no Capão.


Para discutir esta e outras propostas, será realizada uma reunião geral em data prevista para o dia 7/7 (a confirmar).

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