Dando
prosseguimento
às atividades de análise da qualidade da água, entre os dias 12 e 17 de
junho de 2014 realizamos a análise de alguns dos principais
pontos de captação de água das nascentes (Bomba, Campos e Gatos) e de
dois
poços que fornecem água para a região da Vila e dos Campos. Somando com
os
outros pontos de captação de nascentes analisados em visitas anteriores
(Mata e
Batista), o projeto Sustentabilidade em Ação tem objetivado compreender a
qualidade da água consumida pela maior parte da população do Capão.
O
Kit Potabilidade utilizado, fabricado pela empresa ALFAKIT, permite a avaliação
da qualidade da água segundo alguns dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério
da Saúde considerando que a água potável, ou seja, adequada para o consumo
humano, deve ser aquela cujas características microbiológicas, físicas,
químicas e radioativas não ofereçam risco para o consumo humano.
Os
parâmetros analisados foram: Alcalinidade, Dureza, Cloretos, pH, Ferro, Amônia,
Cor, Turbidez, Coliformes totais e fecais.
A
análise das fontes de abastecimento de água do Capão procurou identificar os
elementos que diferem dos parâmetros definidos. Após as identificações destes,
focaremos um estudo sobre as consequências destas imperfeições da água para a
nossa saúde e as possibilidades de correção.
Descrição das visitas às fontes de
abastecimento:
Batista: A captação realizada do
Batista se localiza abaixo da nascente. Observou-se que as matas ciliares
estavam bem preservadas. Da represa de captação de água do Batista saem três
encanamentos: um por meio de um cano de 50 que distribui água para a região que
vai do Doce Mel até o colégio Municipal. Este encanamento tem aproximadamente
28 anos de existência. O segundo fornece água para o Lothloren por meio de um
encanamento de 1/2. O terceiro, também de 1/2, fornece água para cerca de oito
casas próximas do local. Segundo relatos, o segundo e o terceiro encanamento
são mais antigos do que a rede geral.
Mata (nascente de Dona Alicinha): A
captação realizada da nascente de Dona Alicinha acontece por meio de um
represamento de água abaixo da nascente de onde saem dois encanamentos que se
juntam, sendo realizado um rodízio de registro para contemplar os moradores do
local. Esta nascente também encontra-se bastante preservada, contudo, não é
capaz de suprir toda a demanda do local, sendo normal que seque nos períodos de
estiagem.
Bomba: A
captação de água realizada no
rio do Bomba é bastante importante para a população do Capão. Ela
fornece água
para a população da própria região do Bomba até a região dos Brancos,
sendo a
fonte com maior capacidade de distribuição. Dentre todos os pontos de
captação,
este é o que o acesso é mais difícil, tendo em vista que é necessária
uma
caminhada de aproximadamente 40 minutos desde o povoado do Bomba até o
ponto de
captação. Embora não houvesse vestígios de presença humana no local,
foram
vistas fezes de equinos, o que indica que alguns animais frequentam o
local.
Durante toda a caminhada observamos que a mata ciliar o local é bem
preservada. Acompanharam-nos nesta análise o professor de biologia da
UFBA e visitante frequente do Capão, prof. Ronan, o médio co Posto de
Saúde do Vale, Dr. Áureo e a ex-monitora do Projeto Sustentabilidade em
Ação e professora Solange.
Localização geográfica do ponto
de captação: 24 L 0219692 UTM:
8615165 Altitude: 865 m
Resultado Coliformes Fecais e Totais: presente
Teste realizado no Bomba: Prof. Ronan, Maria, Solange (monitora) e Vtória.
Teste realizado no Bomba: Maria, Solange (monitora) e Dr. Áureo.
Cano no ponto de captação da água do Bomba
Campos: Na
região dos Campos foi
analisada a água da nascente conhecida por Grota, Fumaça ou Larga. A
água dessa
nascente que chega por gravidade se junta com a água do poço tubular que
chega
por meio de bombeamento até duas caixas de água com capacidade de 10.000
litros
e 30.000 litros cada uma delas. Nestas duas caixas a água da nascente e
do poço
se juntam, passando a partir dali a abastecer os imóveis da região. O
sistema de
abastecimento dos Campos se apresentou de forma bem organizada, uma vez
que
foram os próprios usuários alcançaram um sistema auto-gestionário que
visa à
distribuição do recurso hídrico para todos, considerando as diferentes
formas
de contribuição que cada morador pode dar. Em relação às parcerias
firmadas
para a implantação do sistema, houve um acordo entre um político da
região para
a perfuração do poço em uma área de um particular, sendo que atualmente a
prefeitura paga a conta de energia para o bombeamento da água. Embora o
sistema
de armazenamento em caixas de água ofereça vantagens em relação aos
sistemas em
que a água chega diretamente aos consumidores, foi observada a
necessidade de
um melhor fechamento e vedação destes reservatórios para evitar a
entrada de
pequenos animais, tais como rãs. Acompanharam-nos nesta análise Martin,
permacultor, e André, morador dos Campos e proprietário do terreno em
que se localiza o poço.
Localização geográfica
das caixas: 24 L 0229185 UTM:
8606041 Elevação:
1014m
Resultado Coliformes Fecais e Totais poço
Campos: negativo
Resultado Coliformes Fecais e Totais
nascente: não identificado
Reservatórios dos Campos: caixa de fibra de vidro de 10 mil litros e reservatório de alvenaria (30 mil litros).
Interior do reservatório de 10 mil litros, com duas entradas de água: da nascente e do poço.
Chico: O ponto atual de captação da
nascente do Chico é bastante recente. Há pouco tempo atrás a captação era feita
em um ponto que não secava. Contudo, devido a alguns conflitos referentes a
forma de manejo e ao acesso ao local entre a proprietária do terreno e um
pequeno grupo de moradores que dão manutenção voluntária ao sistema de
abastecimento de água, o ponto de captação passou a ser em um outro local, mais
acima do ponto de captação anterior. O novo ponto de captação apresenta o risco
de secar nos períodos de estiagem, apresentando esta desvantagem em relação ao
ponto de captação anterior. O
ponto de
captação recente apresenta uma mata ciliar bem preservada enquanto que
no ponto
de captação anterior a mata ciliar foi devastada na época dos plantios
de café,
o que indica a importância de um projeto de reflorestamento da mata
ciliar do
local. Essa fonte de abastecimento complementa as fontes do Bomba e do
Batista no
atendimento à população da região, como também fornece água para a
região da
Mata, que sofre com as poucas alternativas de captação de água somado a
um
grande aumento populacional. Acompanharam-nos nesta análise Mônica e Sr.
Zé, proprietários das terras em que se localizam as nascentes, e
Alessandra, do Posto de Saúde.
Localização geográfica do ponto
de captação atual: 24 L 0230108, UTM
8602500, Elevação: 936 m
Resultado Coliformes Fecais e Totais: presente
Localização geográfica do ponto
de captação anterior: 24 L 0230023 UTM
8602542 Elevação: 925 m
Ponto de captação anterior da nascente conhecida como Nascente do Chico
Ponto atual de captação da nascente conhecida como Nascente do Chico, alguns metros acima do ponto de captação anterior.
Gatos: O
ponto de captação da nascente
dos Gatos é bastante conservado, ainda que próximo a ele tenha pequenas
hortas
e pomares. O cano que sai do ponto de abastecimento é de 100 e depois se
divide
em dois canos de 1 polegada. A água dessa nascente abastece toda a
região dos
Gatos e não houve nenhum momento em que tenha secado. Acompanharam-nos
nesta análise o morador dos Gatos Sr. Jorge e o dentista do Posto de
Saúde do Vale, Raimundo.
Localização geográfica do ponto
de captação: 24 L 0229467 UTM
8604566 Elevação: 934m
Resultado Coliformes Fecais e Totais: não
identificado
Após
a análise da nascente, foi realizado um teste de coliforme em uma das
residências do pequeno agrupamento de casas dos Gatos (próximo à ponte dos Gatos).
A casa não possui caixa d´água,d e forma que a água analisada é a mesma da
fonte, após passar por encanamento. O resultado de Coliformes Fecais e Totais
na residência foi positivo, sugerindo contaminação no encanamento.
Foto do represamento e captação da água da Nascente dos Gatos.
Realização da análise: Vitória e Raimundo
Vila: Para a análise da qualidade da
água que é servida para a população da Vila, fizemos o exame com a água do
nosso escritório, localizado na ladeira da vila do Capão. A água coletada vem
diretamente do poço tubular perfurado pela CERB em 14/03/2000. O poço tem 114
metros de profundidade, apresentando vazão na época da perfuração de 23.290
l/h. A água, portanto, não passa por nenhum reservatório de água, somente pelo
encanamento que conduz a água do poço para a residência.
Resultado Coliformes Fecais e Totais poço
Vila: negativo
Os resultados dos parâmetros analisados em
todas as nascentes foram os seguintes:
Obs.:
os parâmetros que estão em conformidade com o estabelecido pelo
Ministério da Saúde forma marcados em azul, enquanto aqueles que não
estão em conformidade estão grifados em rosa. Em verde estão os
parâmetros que não têm um valor máximo permitido ou cujo teste não
alcançou uma resposta que pudesse identificar o valor exato. O maior
problema identificado nas águas do Capão foi o pH, em geral mais ácido
do que o recomendado.
Para um melhor entendimento destes parâmetros, segue abaixo uma breve descrição de cada um deles:
Alcalinidade: a origem natural da alcalinidade está nas rochas,
atmosfera, matéria orgânica, fotossíntese; a origem antropogênica, relacionada
às atividades humanas, está nos despejos domésticos e industriais. Entre as
impurezas encontradas na águas, existem aquelas que são capazes de reagir com
ácidos, podendo neutralizar certa quantidade desses reagentes. Essas impurezas
conferem às águas a característica de alcalinidade. Por definição, alcalinidade
de uma água é a sua capacidade quantitativa de neutralizar um ácido forte, até
um determinado pH. A alcalinidade é devida principalmente à presença de
bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos. Valores elevados de alcalinidade estão
associados a processos de decomposição da matéria orgânica e à alta taxa respiratória
de microorganismos. Mesmo as águas com pH inferior a 7,0 (5,5 por exemplo),
podem, e, em geral, apresentam alcalinidade, pois normalmente contém
bicarbonatos. A maioria das águas
naturais apresenta valores de alcalinidade de 30 a 500 mg/l. Do ponto de vista
sanitário a alcalinidade não tem significado relevante, mesmo para valores
elevados (e. g., 400 mg/L de CaCO3). No entanto as águas de alta alcalinidade
são desagradáveis ao paladar e a associação com pH elevado, excesso de dureza e
de sólidos dissolvidos, no conjunto, é que podem ser prejudiciais.
Dureza: Inicialmente, a dureza da água era entendida como a
capacidade da água de precipitar sabão. O sabão é precipitado principalmente
pela presença de íons cálcio e magnésio. Outros cátions, como por exemplo,
ferro, manganês e zinco, podem precipitar o sabão; porém, geralmente estão
presentes na água na forma de complexos, frequentemente com constituintes
orgânicos, e sua participação na dureza da água é mínima. Assim, e de acordo
com a prática atual, dureza de uma água é a soma das concentrações de cálcio e
magnésio, expressas em termos de carbonato de cálcio, em miligramas por litro.
A dureza de uma água pode ter origem natural (como dissolução de rochas
calcárias) ou antropogênica (lançamento de efluentes industriais). Águas com
elevados teores de dureza reduzem a formação de espuma, mas há evidencias de
que a ingestão de águas duras contribui para uma menor incidência de doenças
cardiovasculares. Em corpos d´água com
reduzidos teores de dureza a biota é mais sensível à presença de substâncias
tóxicas, já que a toxidade é inversamente proporcional ao grau de dureza da
água. Habitualmente, uma água doce natural tem uma dureza total, expressa como
CaCO3, à volta de 35 mg/L, podendo apresentar valores muito mais elevados, sem
qualquer risco para a saúde.
Cloretos: Os cloretos existem normalmente nos dejetos animais e,
por isso, a análise de cloreto pode indicar contaminação fecal. Nas águas
superficiais, são fontes importantes de cloreto as descargas de esgotos
sanitários, sendo que cada pessoa expele através da urina cerca 4 g de cloreto
por dia, que representam cerca de 90 a 95% dos excretos humanos. O restante é
expelido pelas fezes e pelo suor (WHO, 2009). Tais quantias fazem com que os
esgotos apresentem concentrações de cloreto que ultrapassam 15 mg/L. O cloreto
não apresenta toxicidade ao ser humano, exceto no caso da deficiência no
metabolismo de cloreto de sódio, por exemplo, na insuficiência cardíaca
congestiva. A concentração de cloreto em águas de abastecimento público
constitui um padrão de aceitação, já que provoca sabor “salgado” na água.
pH: O pH, que pode variar entre 0 a 14, indica se a água é ácida ou
alcalina. Assim, o pH 7,0 indica neutralidade. Acima de 7,0 indica alcalinidade
e abaixo de 7,0 indica acidez. Quando o pH baixa, a corrosividade da água
geralmente aumenta, trazendo para a solução ferro e manganésio, por exemplo,
que lhe dão um gosto desagradável. Valores de pH altos também podem atacar os
metais. Para a vida aquática, o pH deve situar-se entre 6.0 e 9.0. O pH altera
a solubilidade e, por isso, a disponibilidade de muitas substâncias, mas também
afeta a toxicidade de substâncias como o ferro, chumbo, crómio, amoníaco,
mercúrio e outros elementos.
Ferro: A concentração alta de Ferro pode acontecer pelas
características naturais da água ou por receberem esgoto do tipo industrial. Nas águas superficiais, o nível de ferro
aumenta nas estações chuvosas devido ao carreamento de solos e a ocorrência de
processos de erosão das margens. O ferro confere cor e sabor à água, provocando
manchas em roupas e utensílios sanitários. Também traz o problema do
desenvolvimento de depósitos em canalizações e de ferro-bactérias, provocando a
contaminação biológica da água na própria rede de distribuição. Por estes
motivos, o ferro constitui-se em padrão de potabilidade.
Amônia: A amônia, assim como o cloreto, indica a presença de
dejetos animais e também humanos. Ainda que uma pequena quantidade de amônia
possa aparecer naturalmente em águas de abastecimento, a sua quantidade elevada
indica poluição recente. Um odor pungente é detectável em concentrações acima
de 30 mg/L, ocorre irritação ocular e nasal a 50 mg/L, disfunção pulmonar a
1000 mg/l e há risco de morte se uma pessoa for exposta a concentrações acima
de 1500 mg de NH3/L(11). Ocorre em vários efluentes domésticos e industriais e
também resulta da decomposição natural da matéria orgânica. O amoníaco e seus
derivados (uréia, nitrato de amônio e outros) são usados na agricultura como
fertilizantes e componentes de vários produtos de limpeza. O amoníaco é muito
usado em ciclos de compressão (refrigeração) devido ao seu elevado calor de
vaporização e temperatura crítica. Em concentrações muito altas, por exemplo,
na água de consumo, pode causar danos graves, já que interfere no transporte do
oxigênio pela hemoglobina, entre outros efeitos tóxicos.
Cor: A existência na água de partículas coloidais ou em suspensão
determina o aparecimento de cor. Essas partículas provêm do contato da água com
substâncias orgânicas como folhas, madeira, etc., em estado de decomposição, da
existência de compostos de ferro ou de outras matérias coradas em suspensão ou
dissolvidas.
Turbidez: A turbidez ou turvação duma água é causada por diversos
materiais em suspensão, de tamanho e natureza variados, tais como, lamas,
areias, matéria orgânica e inorgânica finamente dividida, compostos corados
solúveis, plâncton e outros organismos microscópicos. A presença destes
materiais em suspensão numa amostra de água causa a dispersão e a absorção da
luz que atravessa a amostra, em lugar da sua transmissão em linha reta. A
turbidez é a expressão desta propriedade óptica e é indicada em termos de
unidades de turbidez (NTU – Nephelometric Turbity Unit).
Sobre os coliformes totais e
fecais, estes indicam a presença de organismos parasitários ou patogênicos que
utilizam a água como veículo. Devido a grande dificuldade de identificar os
microorganismos patogênicos presentes na água, identificam-se as bactérias do
grupo "coliforme" que, por serem habitantes normais do intestino
humano, sua presença nas águas indica a presença de matéria fecal, sendo
inadequada para o consumo sem tratamento.
Fontes: Relatório Kurita, Aline
Maxiline Pereira Oliveira; ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS COR, TURBIDEZ, PH,
TEMPERATURA, ALCALINIDADE E DUREZA- MIEB – 2007/08; UNICAMP – ST 502 e ST 503;
CETESB; Alfakit.
FIQUE ATENTO!
Em
breve o projeto realizará mais testes de qualidade da água. A ideia é
manter um Programa Permanente de Análise da Qualidade da Água no Capão.
Para discutir esta e outras propostas, será realizada uma reunião geral em data prevista para o dia 7/7 (a confirmar).